sexta-feira, 25 de julho de 2008

Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (Lado B)

Como que conseguimos chegar atrasados no cinema? Você não decide a roupa, fica difícil. Eduardo e Mônica perderam a estréia do Superman 42, a pipoca tinha acabado e tiveram que assistir um filme brasileiro. Que horror essa lei que institui salas obrigatórias com filmes brasileiros, disse Mônica. Relaxa, com voz leve mas firme, responde Dudu.

Eduardo pede um expresso duplo. Agüentar sessão “Festival de Gramado” será dose. Mônica lê o folhetim da loja de departamento. Lembra que terça-feira precisa pagar a quinta parcela das compras de natal. Fica feliz em pensar no feriado da sexta-feira. É claro que não lembra de qual feriado estão falando, ficará sabendo no dia de manhã quando o Eduardo ligar aquele rádio insuportável na freqüência AM para saber tudo de esportes, política, crimes e posicionamentos moralistas conservadores. É curto, muito curto o percurso que precisam fazer pela manhã, mas vão de carro, é mais cômodo e aliás tem que usar, já que compraram e só vão parar de pagar quando começarem a pagar o próximo, assim nunca param de pagar e de usar. Bicicletas estão na garagem com o pneu vazio, assim como o transporte público que não conseguem nem mais vê-lo e sentem insegurança, desconforto e mau cheiro da má política pública social. Chiquinho, primeiro filho, não fez o dever de casa porque estava na frente de computador jogando monstros uns nos outros para ver quem morreria antes. Caso isso trouxesse ainda uma percepção de finitude, mas ao contrário, lhe distancia da realidade e lhe consome o tempo, dando a equivocada sensação de presente para sempre.

Jogar tudo pela janela pode ser muito difícil, por isso Mônica insiste que continuar no desmotivante emprego é a melhor opção. Como é torturante acordar cedo. Fui feito para a noite, diz Eduardo. Ficar acordado é moleza, agora levantar é o maior sacrifício que faço todos os dias. Trabalhar para aquele gerente financeiro chupa cabra não tinha problema, se dava um jeito. Camisinha não precisa, preguiça demais, prudência de menos, luxúria demais, sabedoria de menos. Nossos pais podem pagar, não te preocupa. Aborto não dá mais, minha avó já sabe e eu também ia ficar muito culpada. O nome dela vai ser Elisabete, segunda e última filha.

Não tinham tido lua de mel, porque Francisco já tinha adiantado os planos. A lua de mel foi depois de nascer Elisabete. Os pais pagaram tudo, porque o Bebê consome dinheiro e gosta da casa dos avós. Enquanto os outros dois foram para o nordeste, se “acertar”. Na chegada à pousada, um já não gostou do lugar, muito simples, não era muito limpo, não tinha batata frita e tudo aquilo mais. O outro, aquele que havia escolhido, gostou. Na verdade, eram iguais de criação, ambos chatos e protegidos. Mas na vida não há proteção ao acaso, ainda mais quando há caso.

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