terça-feira, 28 de julho de 2009
Lançamento do desAMORdaçados
A grande expectativa do mundo literário brasileiro de contos 2009 terá seu lançamento oficial no sábado 01 de agosto, mês do cachorro louco. O livro desAMORdaçados terá sessão de autógrafos a partir das 13h no MAP CAFÉ CULTURAL. Riachuelo, 1257. Porto Alegre.
terça-feira, 31 de março de 2009
45 anos atrás
Em protesto contra todo o
tipo de autoritarismo,
esse blog está reaberto.
Há 45 aconteceu o golpe
militar no Brasil.
Há ainda aqueles que acreditam que
nada aconteceu.
Enfim, a ditadura de
alguma forma e para muitas pessoas
deve ter sido algo que Kafka
teria prazer em descrever:
um labirinto arquitetado
por uma sociedade cega,
surda e forçadamente muda.
Anexo o texto do professor José Carlos Moreira Filho.
www.unisinos.br/blog/ppgdireito (quem quiser ver os textos indicados no final do post, basta abrir a página do blog e fazer o dowload dos textos)
Mar|31
45 Anos do Golpe Militar- Há quem comemore…
Hoje se completam 45 anos desde que ocorreu o golpe militar, apoiado por alguns setores da sociedade civil, marcadamente grupos de empresários, bem como pelo concerto político-militar e econômico comandado pelos Estados Unidos da América.
No post sobre os relatos de soldados israelenses que atuaram na Faixa de Gaza fiz algumas considerações sobre o estado atual da mentalidade da caserna brasileira (Ver http://unisinos.br/blog/ppgdireito/2009/03/21/investida-israelense-em-gaza-relatos-de-barbarie-no-front/). Creio que as observações ali feitas podem ser agora plenamente comprovadas na celebração promovida pelos Clubes Militar, da Marinha e da Aeronáutica do Rio de Janeiro. É isto mesmo, hoje há uma festa programada para celebrar, como eles dizem, “os 45 anos da revolução democrática”. Eu, particularmente, considero difícil que se possa chamar de democrática a deposição de um presidente eleito pelo povo, acompanhada de um governo sustentado juridicamente em Atos Institucionais auto-legitimantes, que adotou a tortura, a censura, o assassinato, o desaparecimento, a proibição do livre pensamento como práticas institucionais e corriqueiras.
É bem verdade que na época havia movimentos e grupos de esquerda que também não ostentavam muito apreço pela palavra democracia, mas tais grupos eram minoria e não comandavam as ações do governo João Goulart. O problema todo é que qualquer política que procurasse um viés social era taxada de subversiva e era considerada um mal em si mesma. É fácil comprovar tal embrutecimento da inteligência, por exemplo, no texto escrito pelo General Clovis Purper Bandeira (atentem para o discurso raivoso contra os sindicatos e os trabalhadores mobilizados em prol de melhores condições de trabalho), e que se encontra no Portal do Clube Militar do Rio de Janeiro (o texto está disponível para dowload ao final do post), juntamente com o anúncio das comemorações. Na referida festa haverá, inclusive, uma homenagem às pessoas que teriam sido mortas pelas ações de grupos armados rebeldes.
Importante registrar, contudo, que os atos violentos cometidos por grupos de oposição à ditadura militar brasileira ocorreram após o golpe, especialmente após o “golpe dentro do golpe” (AI-5 em 1968), como um resultado do fechamento de todas as outras vias de resistência ao regime autoritário. Outro detalhe importante de ser lembrado é que os grupos armados de oposição não entravam nas casas sequestrando e torturando as pessoas, ou seja, não possuíam a tortura como prática institucional, sem falar que não eram eles que estavam à frente do Estado brasileiro. A violência veio do golpe e do seu recrudescimento, não foi o fruto de nenhum grupo armado de esquerda que queria tomar o poder das mãos de Jango para instituir uma ditadura comunista ou algo parecido no Brasil.
Eu me pergunto o seguinte: se há tanta tranquilidade e convicção por parte dos militares quanto à legitimidade e importância do Golpe (por eles chamado de “revolução democrática”), porque tanto temor assim quanto à abertura dos seus arquivos e ao conhecimento dos nomes e dos atos dos torturadores e assassinos que atuaram a serviço do regime? Afinal, não seriam eles os heróis da pátria? Por que a vergonha em admitir tais atos? Não seriam eles, afinal, um necessário sacrifício em prol da democracia? Por que tanta gritaria diante da proposição de uma interpretação muito mais adequada, inclusive sob o ponto de vista jurídico, da Lei 6683/79? Se têm tanto orgulho por que tanto medo? A resposta é simples: porque são covardes.
Bem, a título de promover a reflexão sobre esta data, além da pérola do artigo do General Clovis, anexo aqui também texto do Grupo Tortura Nunca Mais do Paraná, assinado por Narciso Pires, e anexo também um ótimo conjunto de artigospublicados hoje no Jornal do Brasil (entre os artigos. inclusive, um do nosso cara-de-pau mor: o Sr. Jarbas Passarinho) (ZK, 31/03/2009).
domingo, 30 de novembro de 2008
Aviso aos navegantes
O endereço; A figueira; e Estrépitos. Publicação prevista para o ano que vem.
Estou fora do ar até finalizar a dissertação. Apenas depois disso, penso
em conseguir escrever alguma coisa que não seja aluncinação.
Enquanto isso alguns trechos para lembrar,
Ou para esquecer...
http://www.youtube.com/watch?v=ja4qiuhOKQg
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Aforismos de Genau
sábado, 25 de outubro de 2008
Viração
Teus angustiados suspiros
Desafiam o lado Herculano
Do dia e da noite
Chora chuvinha de primavera
Teus desenhos caóticos
Desafiam o barulho que conforta
Do antes e do depois
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Um certo Eduardo Galeano
Na parede de uma botequim de Madri, há um cartaz que diz: Proibido Cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, há um cartaz que diz: Proibido brincar com os carrinhos porta bagagens.
Ou seja: Ainda há gente que canta, ainda há gente que brinca.
Eduardo Galeano - As Palavras Andantes
*Na parede de um boteco no Rio de Janeiro, há um cartaz que diz: Proibido Batucar nas mesas;
*Na parede de um mercado em Itapirubá, há um cartaz que diz: Proibido brincar com carrinhos do supermercado...
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Inspiração
Já entendo certas gravuras
mas não sei quem embaralha,
que anverso tem a medalha
cujo verso é minha figura.
Na outra face da lua
dormem os números do mapa;
brinco de encontrar nessas cartas
a que cegamente me inclua.
De tanta alegre insensatez
nasce a areia da passagem
para o relógio do que amei,
mas não sei se a mão é dada
pelo anjo ou pelo acaso,
se estou jogando ou sou as cartas.
Julio Cortazar
Autor de jogo da amarelinha, octaedro e tantos outros.
Mais sonetos em http://www.revistapiaui.com.br/artigo.aspx?id=748
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
O caderno de saramago
Trecho do texto "Palavras para uma cidade" do blog de José Saramago, denominado "O caderno de Saramago": http://caderno.josesaramago.org/ , obs... recomenda.
domingo, 7 de setembro de 2008
Janta
eu quis te conhecer
eu quis te convencer
paper clips and crayons in my bed
marcelo camelo : voz e violão
O Vendedor de Palavras
Para os que pensam que vivo somente de anedotas, eis uma crônica com toda a ironia que este país merece.O vendedor de palavraspor Fábio ReynolOuviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia:
"Histriônico - apenas R$0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface, ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela cara de dona-de-casa ninguém jamais desconfiaria. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
- Tem troco para cinco?
domingo, 17 de agosto de 2008
O dia em que o controle remoto estragou.
sábado, 9 de agosto de 2008
XVIII - Ficções do Interlúdio (1)
terça-feira, 29 de julho de 2008
Discurso dos Formanos em Direito da Unisinos 2006/2 - Diurno
Porto Alegre, 6 de janeiro de 2007.
[Essas palavras são dedicadas a memória do meu querido vô Selino João Krupp]
Os direitos fundamentais estão elencados na Constituição Nacional da maioria dos países signatários das Nações Unidas. No Brasil, essa positivação se deu em 1889, na Constituição do Império, mas de uma forma petrica na Carta Magna de 1988 em seu art. 5o.
Escravidão, racismo, discriminação, genocídios, abuso infantil, tortura e censura, são alguns exemplos do que queremos evitar através dos Direitos Fundamentais, isto é, são nossas tentativas históricas de proteção desse valor que se chama dignidade humana.
É verdade que nosso desenvolvimento foi grande: a reafirmação na metade do século XX pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, o crescente respeito de tratados através de órgãos intergovernamentais, cortes inter-regionais e Organizações Não-governamentais demonstram que estamos no caminho certo e que há muito por fazer.
Mas, o que esperar do século XXI?
Nada, é o século XXI que espera tudo de nós.
Esse é o nosso desafio.
Hoje temos a oportunidade de viajarmos na velocidade do clique do mouse, de sermos filmados por micro-câmeras do tamanho de um botão de camisa. Temos todos os tipos de comida enlatada, congelada e um crescimento assombroso do lixo que não temos tempo nem paciência de separar.
Somos conectados a computadores, celulares, TV digital e desconectados de nossas famílias, amigos e daqueles que amamos.
Falamos inglês mas não sabemos o que dizer para o menino que pede dinheiro na rua, aquele mesmo que irá nos encontrar daqui alguns anos nos tribunais e vamos nos perguntar, o que fizemos de errado?
Pois nós somos responsáveis pelas respostas dessas perguntas agora. Nós entendemos que os problemas dos direitos fundamentais são os problemas máximos que iremos enfrentar e deles não vamos fugir: desafios da bioética, dos transgênicos, novas relações familiares, preservação da intimidade e de um meio ambiente sustentável, nossa liberdade e igualdade e todos os novos direitos que estão a surgir. E que precisamos preservar para as gerações futuras. Essa é a responsabilidade dos direitos fundamentais.
É provável que não sejamos pessoas tão diferentes dos nossos pais quanto nós imaginamos. Mas as condições externas as quais estamos submetidos são muito diferentes, principalmente no que se refere ao período universitário.
Nós somos a geração que não conheceu a máquina de escrever na faculdade e que lembra do passado antes de nascermos, como uma televisão preto e branco. Nós não sabemos dirigir sem o cinto de segurança apertando o peito. A nossa geração não é Coca-Cola, somos a geração google-yahoo. O nosso herói é o Senna. Nós somos brasileiros sem inflação, tetra e penta campeão. Sabemos que nosso país é muito pobre. Somos aqueles que não passaram pela ditadura, aqueles que viram esse ano a Corte Inter-Americana de Direitos Humanos condenar pela primeira vez o Brasil. Nós lembramos do Eldorados dos Carajás, do Fernando Collor de Mello, dos sanguessugas e esperamos a reforma política.
E paradoxalmente procurando respostas no Direito.
Aprendemos que não temos certezas, aprendemos que “depende”. Depende do caso. Algum vizinho nos pergunta domingo ao meio dia sobre o direito da empregada e respondemos... depende. Porque a decisão jurídica faz parte de uma complexa estrutura de procedimentos e valores que pretende ser tão complexa quanto as situações da própria vida. E por isso depende, porque é complexo.
Aprendemos a ler, a escrever e a interpretar, leis, pessoas e suas histórias. Mas sobretudo aprendemos que mais do que nunca existe uma grande muralha, embora tênue, que separam os éticos, dos outros que sujam nossa profissão. Quando se fala em direitos fundamentais, é responsabilidade diária de todos nós numa caminhada ética, honesta e centrada na dignidade humana a mudança de trajetória do século XXI. Nós somos o próprio desafio desse século.
Esse discurso vai para os sonhadores
Os fora de forma, os rebeldes.
Aqueles que não se encaixam em lugares comuns
Os que desconcertam a turma
Os que estudam muito
Para aqueles que usam seus corações
Para aqueles que vêem o mundo diferente
Eles não estão satisfeitos com as leis
E não tem respeito por autoridades corruptas
Você pode cita-los, discorda-los,
Torna-los grandes ídolos ou grandes vilões
Mas a única que coisa que vocês não podem fazer
É ignora-los.
Porque eles mudam as coisas
Eles empurram a humanidade para frente
E o que alguns podem chamar de sonhadores. Nós vemos gênios.
Porque as pessoas que são loucas o suficiente,
para pensar que podem mudar o mundo... são as que mudam.
sábado, 26 de julho de 2008
Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (le grand finale)
[para ficar menos dramático]
- E tu, por que é que me chamavas Morte?
Eu sou, apenas, tua Alma...
Mario Quintana
Tiro, gritou Seu Antônio. A vida não sabe o que acontece nessas horas. Foram sete tiros. É que não se mexe com gente nativa. Gente nativa não é progressista, nem é conservadora, fazem o que é certo. Existe um certo dentro de pequenas comunidades, dentro de gente que aprende com gente. Os nativos cultivam família, seu valor e seu orgulho são suas vidas. Família é aquele local onde um é uma parte do outro. Não existe o certo para pessoas pós-modernas, pós-industrias, para as pessoas virtuais, existe apenas o “agora”. Ao mesmo tempo em que voltamos ao artificial, voltamos ao natural. Ao instinto, ao desejo. O desejo apenas arrancou dos olhos um trovejar. A cena estava explícita, quando houve o tiro. Outros cinco nas costas e um na cara. Dos palhaços, um dos dois morreu. O outro acordou e foi cuidar dos filhos. Ainda haveria tempo. Caso não ocorresse outro acaso.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (Lado B)
Eduardo pede um expresso duplo. Agüentar sessão “Festival de Gramado” será dose. Mônica lê o folhetim da loja de departamento. Lembra que terça-feira precisa pagar a quinta parcela das compras de natal. Fica feliz em pensar no feriado da sexta-feira. É claro que não lembra de qual feriado estão falando, ficará sabendo no dia de manhã quando o Eduardo ligar aquele rádio insuportável na freqüência AM para saber tudo de esportes, política, crimes e posicionamentos moralistas conservadores. É curto, muito curto o percurso que precisam fazer pela manhã, mas vão de carro, é mais cômodo e aliás tem que usar, já que compraram e só vão parar de pagar quando começarem a pagar o próximo, assim nunca param de pagar e de usar. Bicicletas estão na garagem com o pneu vazio, assim como o transporte público que não conseguem nem mais vê-lo e sentem insegurança, desconforto e mau cheiro da má política pública social. Chiquinho, primeiro filho, não fez o dever de casa porque estava na frente de computador jogando monstros uns nos outros para ver quem morreria antes. Caso isso trouxesse ainda uma percepção de finitude, mas ao contrário, lhe distancia da realidade e lhe consome o tempo, dando a equivocada sensação de presente para sempre.
Jogar tudo pela janela pode ser muito difícil, por isso Mônica insiste que continuar no desmotivante emprego é a melhor opção. Como é torturante acordar cedo. Fui feito para a noite, diz Eduardo. Ficar acordado é moleza, agora levantar é o maior sacrifício que faço todos os dias. Trabalhar para aquele gerente financeiro chupa cabra não tinha problema, se dava um jeito. Camisinha não precisa, preguiça demais, prudência de menos, luxúria demais, sabedoria de menos. Nossos pais podem pagar, não te preocupa. Aborto não dá mais, minha avó já sabe e eu também ia ficar muito culpada. O nome dela vai ser Elisabete, segunda e última filha.
Não tinham tido lua de mel, porque Francisco já tinha adiantado os planos. A lua de mel foi depois de nascer Elisabete. Os pais pagaram tudo, porque o Bebê consome dinheiro e gosta da casa dos avós. Enquanto os outros dois foram para o nordeste, se “acertar”. Na chegada à pousada, um já não gostou do lugar, muito simples, não era muito limpo, não tinha batata frita e tudo aquilo mais. O outro, aquele que havia escolhido, gostou. Na verdade, eram iguais de criação, ambos chatos e protegidos. Mas na vida não há proteção ao acaso, ainda mais quando há caso.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (Lado A)
Antônio voltou da pescaria mais uma vez. Ouve o barulho do mar ou das crianças. Está tão acostumado em dormir e acordar no mesmo horário que nada incomoda. Esse mês teve mais peixe, no seguinte teve um pouco menos. Comemos muito peixe. Dizem que faz bem. Gostava de conversar com quem é de fora. Aliás vende água de coco nos verões, pela tarde, isso há mais de trinta anos. Antônio não tem sapatos, têm chinelos e a casca dura do pé. Antônio não tem idéia de como funciona a estrutura das CPIs no Congresso Nacional.
Seu Antônio estava surpreso com o número de turistas esse ano. Bastante gente, gente de fora e gente do sul também. Seu Antônio gostava de sorrir muito ao gritar “Olha Água de Coco”. Todos vinham, compravam e não reclamavam do preço, ele também não pedia muito. Um dia um fato estranho aconteceu, que ele conta até hoje para a família, a grande família, fato que ainda não conseguiu entender.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
LEILA - Cap. 1 - Destino
Na portaria do hotel, sentado o balconista mórbido tira um cochilo. Leila permanece parada por alguns instantes, até ele acordar. Não acorda.
- Tem algum lugar aberto a essa hora? – diz Leila. O balconista mórbido abre os olhos, olho por olho, como se estivesse dormindo há séculos. Ele pergunta sobre que lugar estava procurando. O cemitério e a igreja nunca fechavam.
- Eu preciso esquecer algumas coisas. Tem alguma cafeteria aberta?
O balconista mórbido, com palavras dormidas, explicou que Salvador do Sul não era Paris e que talvez nem durante o dia existisse cafeterias melancólicas com garçons solidários a histórias tristes. Mas tinha um posto 24 horas, na avenida central, perto da rotatória.
Leila sente um ar gelado pelo casaco aberto ao entrar na avenida. Se protege com o cachecol. O que devo fazer? Eu fui sempre tão segura nas minhas decisões, tão sabida. Conhecer o Tales não me tirou o sono. Tirou a vida. Eu não tenho nem o telefone, só o endereço. Eu nem falei nada, não disse do quê gostava, do seu cabelo. Ele não tinha nem meus contatos. E agora só mais uma noite. Ou é hoje, ou nunca mais.
Leila se aproxima do posto. Ao lado da loja de conveniências há uma farmácia, e a frente desses, um guarda noturno, vestido de preto e com cara de brabo. Mas todos tinham cheiro de posto. Em alguns passos, entrou na loja. A televisão estava ligada. Jô Soares. O balconista quieto está no computador, olhando o Orkut. Leila pede um café. De máquina, pode ser. Não há mesas, nem cadeiras. Apenas uma máquina de café, lanches velhos e uma banca com algumas revistas. Leila paga o café e sai da loja, insatisfeita. Tenta na farmácia algo melhor.
- Tem algum remédio para a alma?
O balconista sorriso confortável responde que havia anti-depressivos, calmantes, chás naturais, alguns tarja vermelha, outros preta, outros sem tarja. Mas todos eles remediavam, não mediavam coisa alguma.
- Depois que o efeito passa, a causa volta. Às vezes mais forte. Às vezes tarde demais.
Leila retoma a avenida central. Toma o sentido contrário do hotel. Sentido do seu sentido. Bate na porta da casa 177 da avenida central.
Um homem grisalho abre a portinha olho-mágico do meio da porta da casa. Não havia ninguém. Leila tinha se escondido. Espera a portinha olho-mágico fechar e a luz da casa se apagar. Dá a volta na casa. Bate na janela. Bate de novo. A luz do quarto acende. Tales abre a janela e pergunta o que houve. Leila abre um sorriso.
- Te encontro em Bruxelas. Aqui está o endereço.
Leila laça o cachecol no seu pescoço e saca um beijo. Olha no meio dos olhos. E volta a avenida central.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Segunda Versão
- Então, você saiu com quem hoje?
- Do que você está falando? Está sugerindo?
- Você sabe do quê. Eu não vou mais tolerar isso.
- Tolerar? Sabia que estou passando fome?
- Deve ser a tua mãe, fica parada o dia todo comendo tudo dentro de casa.
- Coitada, sorte que é surda. Parado é você que está desempregado.
Ele passa pela sogra, olha com desdém e sugere:
- Gostaria de viajar? Duas passagens só de ida...
- Pode deixar, vou fazer as minhas malas e de mamãe.
Maria sai para dentro do apartamento. Do quarto ela diz:
- É sua última chance.
- A sua já passou.
- Está bem.
Ela aparece na sala:
- Ô espertinho, eu estou lendo no bilhete que a passagem é para você.
- Ótimo, já sei para onde vou ir e o quê vou fazer.
Ele vai para o quarto. De lá, ele diz:
- Onde está o revolver, querida?
- Vai procurar na gaveta das dívidas.
- Não posso nem dar um fim que merece essa história. Esse é o resultado de se casar com a primeira que encontra na esquina.