domingo, 20 de abril de 2008

Questões Preliminares de Joel III

A primeira vez que encontrei Joel, foi no seu primeiro emprego. Estava chegando a universidade, estacionei o carro no lado de fora, tendo em vista que a privatização dos espaços para estacionar da universidade fizeram com que os custos de transporte aumentassem mais do que a mensalidade. Isso não quer dizer que a mensalidade está menos pontuda. Daquelas pontadas que doem até em quem está apenas assistindo. Ele perguntou, bem cuidado tio? Eu olhei aquele guri gordinho, não chegava a um metro e meio, e perguntei: o que acontece se alguém vier roubar o carro? Eu cuido, eu cuido. Estou trabalho aqui há 5 anos e nunca aconteceu nada. Mas quantos anos tu tens? Tenho 12.

Eu não era o único admirador de Joel. Ele era bom de fala. Veja só: ele conversava e convencia com estudantes universitários (gente sem grana, que se sobra gasta em cerveja, ou em alguma outra coisa) que com aquele tamanho todo, com aquela desenvoltura, poderia e iria cuidar dos seus carros, enquanto estivessem estudando. E tinha resposta pra tudo. Está estudando? Sim tio, estou na 7a série. Pra que esse dinheiro menino? Pra comprar material. Convenceu.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Questões Preliminares de Joel II

Joel que rima com pastel, não engoliu essa. Foi a luta, caiu no ringue. Joel adorava matemática e todas as outras matérias que fizessem com que não pensasse na história. A história não lhe parecia muito encorajadoura, já que descrevia basicamente grandes eventos, a maioria trágicos, como as duas guerras mundiais, a independência do Brasil, e a sucessão democrática brasileira, entre uma ditadura aqui, um suicídio ali, outro impeachment lá. Mas onde ele estava? Não, ainda não havia descoberto a filosofia, estava num campo bem mais próximo, estava perguntando-se onde ele estava dentro daqueles livros de história com boas gravuras distribuídos pelo Ministério da Educação e Cultura, que eram bons, mas ninguém podia escrever as respostas dos exercícios, porque as próximas 22 gerações precisavam usar, depois dele, sabe, um país que claramente tem um projeto para a educação. Joel estava dentro daqueles que sofreram tudo o que o seu povo devia e não devia. Aqueles que foram colocados todos dentro do mesmo saco, ou do mesmo barco, e depois disso, não importa se eram de Angola, do Congo, não, eram todos negros escravos.

Ele achava muito engraçado como muitos povos, por minorias que fossem, sabiam se eram japoneses, poloneses ou italianos. Ele sabia somente que vinha do continente esquecido. Ele dedicou-se primeiramente nas exatas. De torta já bastava sua vida. Acho fácil, báskara, geometria, e ainda teve uma grande afinidade com aqueles cálculos difíceis com nomes estranhos...logaritmos! Foi o melhor da turma, sentimento fantástico: olhava para a professora e esperava aquele olhar de volta! Hmmm! Nada de atração, afinidade, era o ego dele mesmo, achou, tinha um!

A família de Joel trabalhava. O pai era motorista de ônibus. A mãe limpava o colégio durante a semana, e a igreja durante o fim de semana. Eles tinham uma avó que vinha uma vez por semana, o nome dela era Monalisa, que falava pouco, mas tinha um sorriso muito confidente. Ele achava estranho o jeito que gostava dela. Ela foi embora um dia, dizem que havia ido para um albergue. Albergue, será que tinha ido viajar ? Joel pensou nisso. Olhou para o céu, estava azul e quente, e vento forte. A avó sempre dizia que em tempo de vento forte, é preciso pensar forte, para o vento não levar seus pensamentos. Os irmãos eram muitos. Quatro meninas e quatro meninos. Desses tinha um casal de gêmeos, alguns de touro, outros de escorpião e poucos de Áries.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Questões preliminares de Joel I (I de IV)

As palavras fortes eram características intrínsecas na personalidade de Joel, nome fraco como quem não come mel nem joga coisa alguma. Nosso amigo é uma construção de uma sociedade ressentida e perdida. Nunca entendeu porque nasceu pobre. Observe que o rapaz para burro não servia, tendo em vista a persistência em procurar saídas em diferentes sistemas.



A religião realmente nunca foi a primeira opção dele. Mas naquela de Maria-vai-com-as-outras de guri, foi batizado, crismado e para tanto, inclusive havia se confessado duas vezes, fato que não confessava (!) para ninguém nem sob ameaças, tolice. A tal dita ofereceu algumas opções que por mais que tentava aceitar racionalmente, modernamente, não era possível. Só com fé mesmo.



Sua mãe lhe dizia que fé era de olhos fechados. Rezar de olhos fechados era bom. Mas se a questão era fé, era a única coisa que não tinha. Seu pai era bêbado. Mas era o pau-d´água mais decente do bairro, e por isso não podia reclamar, suas tias (deixadas embarrigadas) lhe diziam. Fé na sua vida. Tudo que sabia era pelo bairro ou pela televisão. Veja a estranheza. Não gostava de Deus. Era isso que diziam.



Mas o texto não é para criticar Deus, que era um Ser pelo visto, como qualquer outro, visto que com poder, fez coisas boas e ruins. Voltando ao assunto, religião, ele por não acreditar justamente na única coisa que parecia possível, a fé, não pode pessoalmente, aceitar todas as possibilidades, que podem te dizer que você foi um rei malvado vida passada e por isso está pagando os pecados (o número de reis malvados aumenta impressionantemente) ou que está num degrau espiritual passando para outro, ou porque Deus quis assim. Façam suas apostas.

domingo, 6 de abril de 2008

Sono

Existe um momento em que todos dormem. Para os que gostam das manhãs e dormem cedo, é um pouco antes de acordarem. Para aqueles que são amigos das madrugadas, é logo que caem na cama. Nesse momento Deus dá uma cochilada também.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Chat

- Eu estou cansado. Quero casar e ter filhos.
- Mas filho, você têm apenas 18 anos. Você está no segundo ano da faculdade.
- Pai, não me venha com suas desculpas baseadas em fatos que só o tempo vai curar. Eu não tenho culpa de ser precoce, de minha vida ser da maneira como você planejou e agora eu estar dando um fora em você. Vou casar e ter filhos.
- Filho a vida é um pouco mais complicada do que isso. Eu e sua mãe quando nos casamos éramos muito jovens e hoje estamos muito arrependidos. Nós não somos felizes e só permanecemos juntos para criar bem e com saúde você e os seus 5 irmãos e setes irmãs.
- Pai, você ainda tem coragem de vir me contradizer contando sua infeliz história de vida? Não entende que estou gritando por um pouco de atenção, urgindo que olhem em nossos olhos e me ouçam, me importunem com perguntas sobre minhas árvores e minhas rosas.
- Ricardo Maria, você está passando dos limites.
- É só isso que eu quero pai. Ultrapassar os limites... não foi isso que você sempre me incentivou? Quando eu não gostava de jogar futebol na escola, porque sempre fui gordo e “tinha que ultrapassar meus limites”, e sem falar no nome, esse dedo inflamado que vocês colocaram em mim, Maria, mariazinha, que merda, toda minha vida carregando esse meu lado feminino discriminado na carteira de identidade, carteirinha estudantil, no plano de saúde, no diploma de segundo grau.
- Filho, vou ter que ligar para a Joana, o que vocês andaram fal..
- A Joana? Ela é um amor pai, pena que é casada, mas apenas me embaralhou mais a cabeça. Eu acho que ela não conclui o curso de psicologia, ela gosta mesmo é de outras coisas, só fica me perguntado sobre a minha vida sexual, se estou satisfeito, se minhas parceiras estão satisfeitas, se eu tenho culpas...ahhhrrrr... Sério vou casar e ter filhos.
- Fabrício Maria, venha cá, seu irmão está precisando de um copo d’água.
- Eu preciso é de uma vida pai.
- Você deve descobrir isso, mais ou menos sozinho meu filho.
- Por isso vou casar e ter f...
- Mas você não tem nem mais namorada.
- Mas a Berenice ainda me ama.
- Mas você nunca a amou.
- Eu não sei o que é amar.
- Ninguém sabe filho.
- Então como você diz que não ama a mãe?
- Eu apenas sinto isso. Minhas expectativas platônicas, são do mundo da estrela, sabe-se lá que formas que eu vi. Mas depois que meu desejo ardente se esvaneceu, sobraram apenas a carcaça, minha e dela. E eu não soube como aproveitar os pedacinhos tão delicados de diferença que nós tínhamos, nossa maior riqueza. Eu não consegui ter a proeza de aprender isso antes meu filho.

- Pô cara, legal naum imaginava q vc conseguisse interpretar um pai taum bem.
- Eh eu tbm naum sei como consegui fazer isso.
- Mas vc tcl da onde?
- Eu? Do andar de cima.
- Di cima? Vc tah morto? No céu?Rsss...
- Não, do escritório mesmo.
- O q????? Qm eh vc? Daniel?
- (...)
- Pai?