sábado, 29 de março de 2008

Microcontos - série P: olíticas

Palavras Perigosas

Peço Permissão Para Problematizar Provérbios Promíscuos Protegidos Pelo Processo Participativo Proveniente Por Partidos Políticos Pernetas. Possíveis Preocupados Para Por Protestos Pela Privada.

Patos

Procura-se Presidente Preocupado Por: Pagar Pelos Parados; Perder Pelos Perpétuos; Procurar Pelos Perdidos; Prometer Palavras Puras; Prender Proprietário Privado...Pensar, Por Piegas.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Democracia em luto, de branco

Alguns sugeriram que fosse um grupo falar com o presidente da câmara municipal, oferecer leal colaboração, explicar que as intenções das pessoas que haviam votado em branco não eram deitar abaixo o sistema e tomar o poder, que, aliás não saberiam que fazer depois com ele, que se haviam votado como votaram era porque estavam desiludidos e não encontravam outra maneira de que se percebesse de uma vez até onde a desilusão chegava,(...) p. 101
José Saramago – Ensaio sobre a Lucidez

Ter o direito de ter o dever de votar. Mas o que acontece quando a náusea por nossos representantes e por nosso sistema político torna-se maior do que podemos suportar?

O autor José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura (o único em língua portuguesa), arquiteta em seu romance, Ensaio sobre a Lucidez, uma capital onde grande maioria dos votos são em branco, fazendo com que políticos de todos os lados, direita, centro e esquerda, percebam o descontentamento da população com o governo.

Observa-se que o país nem precisa ler Saramago para movimentos a favor de votar nulo ou em branco, espalharem-se pelo país, principalmente através das novas mídias de comunicação, como listas de e-mails, websites, comunidades do Orkut, e blogs, como denunciou Zero Hora (27/05/06).

Esses grupos são compostos pela classe média empobrecida pelas décadas perdidas de 80 e 90, ex-estrelas vermelhas, ex-tucanos e por todos que observam ano após ano o seu país, num esforço inacreditável, crescer um pouco mais que o Haiti. E a pergunta indignada, dentro do peito dessas pessoas a votar, explode em: O que eu posso fazer nessas eleições? Votar. Votar em ninguém.

Esses votos em branco são os votos que gostariam de votar na condenação nas CPI’s arquivadas. Também são aqueles votos que choraram ao ver a estrela vermelha da esperança, se avermelhar de vergonha e tristeza. Os votos em branco é são as armas dessa sociedade desarmada de esperança, para combater a violência urbana e social sem solução, que nos afeta diariamente.

Entretanto, não é muito difícil compreender que nossos representantes serão eleitos de alguma forma, ou de outra. Então, que sejam por nós mesmos. É provável que ainda sejam corruptos, mas que sejam cada vez mais denunciados e intimidados por instituições democráticas conquistadas depois de um longo período de votos em branco (1964-1982).

Refletir e denunciar as mazelas de nossa democracia demonstra maturidade da sociedade. Mas no fim, votar nulo é desconhecer as regras, votar nulo é suicidar-se com a pseudo-vantagem de ficar rindo inteligentemente lá do céu, enquanto os seres humanos, que lutam por sobreviver lá embaixo, discutem como tornar esse país mais digno, com essas mesmas pessoas.

Publicado em Zero Hora - 15/06/2006.

PS: (maiores discussões em http://subdiversao.blogspot.com/2006/06/democracia-em-luto-de-branco.html)

domingo, 23 de março de 2008

O que esperar do tempo

Que ele anda pra frente, nunca para trás. Esse é o começo de um raciocínio. A partir disso, se tem o fato (e o fardo) de que nossas tristezas se consolidam e se transformam no seu trabalho. A memória nos revela uma velha surda, daquelas que só ouvem o que lhes convém e muito de vez em quando. Trás o passado reto e o faz torto, tira um torto e mostra um reto. Mas a angustia toda está no futuro. Simplesmente não temos acesso ao futuro. O futuro é um Deus, nunca o encontramos, mas sempre pensamos nele, o futuro é o vento que sentimos pelas mãos, mas não o pegamos, não o alcançamos, ele apenas passa, de presente a passado. A verdade é que a pergunta está mal feita. Não há o que esperar por ele. Isso seria esperar um destino, esperar Deus mesmo. A pergunta é o que o tempo espera de nós. Colocar alguém no meio. O que esperamos fazer do tempo dentro de uma sociedade. Talvez a questão de formular perguntas seja a mais importante, para não cairmos na metafísica. Perguntas vagas levam a respostas vagas. Perguntas específicas levam a respostas específicas, a não ser que quem responda não acompanhe nada.

Fica fácil então. Caso não me dêem nada, não irei. Caso dêem, irei.