Inspirado nas conversas com o vivente Luís Alberto Warat,
produzido na Oficina de Criação Literária 39,
João questionava Joana. Joana se irritava. Mas não era apenas para retrucar. O casamento estava desmoronando. E a fantasia onde estava? João queria a fantasia, queria a alegria perdida. A fantasia é a lembrança da alegria do baile de carnaval de 1988, onde encontrara Joana, a louca índia guarani. O gorila gordo, como chamavam os amigos de perto, encontrou Joana naquela última noite antes da quarta-feira de cinzas. João era um homem apaixonado. Não transparecia de modo explícito, mas com freqüência contava a seu bebê os momentos importantes de sua vida:
“Eu estou de vestido de gorila. Cheiro de cerveja, lança-perfume e purpurina. Os corpos se tocavam de forma involuntária, uns pra cá, outros pra lá, nos embalos das marchinhas. Num determinado momento, o hit do momento, Perdidos na Selva do Barão Vermelho começa a tocar. Todos meus amigos se aproximam e começamos a pular. No mesmo momento, um grupo de gurias começa a pular. Nesse grupo estava a índia-guarani. Olhamos e começamos a rir. As fantasias eram perfeitas. Nós éramos perfeitos.”
Ao terminar de contar a história no quarto do bebê, João olha para os lados. Não há ninguém. Joana estava assistindo televisão. Buscando fantasias. Não a fantasia do gorila, que ela havia perdido.
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