domingo, 30 de novembro de 2008
Aviso aos navegantes
O endereço; A figueira; e Estrépitos. Publicação prevista para o ano que vem.
Estou fora do ar até finalizar a dissertação. Apenas depois disso, penso
em conseguir escrever alguma coisa que não seja aluncinação.
Enquanto isso alguns trechos para lembrar,
Ou para esquecer...
http://www.youtube.com/watch?v=ja4qiuhOKQg
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
Aforismos de Genau
sábado, 25 de outubro de 2008
Viração
Teus angustiados suspiros
Desafiam o lado Herculano
Do dia e da noite
Chora chuvinha de primavera
Teus desenhos caóticos
Desafiam o barulho que conforta
Do antes e do depois
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Um certo Eduardo Galeano
Na parede de uma botequim de Madri, há um cartaz que diz: Proibido Cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, há um cartaz que diz: Proibido brincar com os carrinhos porta bagagens.
Ou seja: Ainda há gente que canta, ainda há gente que brinca.
Eduardo Galeano - As Palavras Andantes
*Na parede de um boteco no Rio de Janeiro, há um cartaz que diz: Proibido Batucar nas mesas;
*Na parede de um mercado em Itapirubá, há um cartaz que diz: Proibido brincar com carrinhos do supermercado...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Inspiração
Já entendo certas gravuras
mas não sei quem embaralha,
que anverso tem a medalha
cujo verso é minha figura.
Na outra face da lua
dormem os números do mapa;
brinco de encontrar nessas cartas
a que cegamente me inclua.
De tanta alegre insensatez
nasce a areia da passagem
para o relógio do que amei,
mas não sei se a mão é dada
pelo anjo ou pelo acaso,
se estou jogando ou sou as cartas.
Julio Cortazar
Autor de jogo da amarelinha, octaedro e tantos outros.
Mais sonetos em http://www.revistapiaui.com.br/artigo.aspx?id=748
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
O caderno de saramago
Trecho do texto "Palavras para uma cidade" do blog de José Saramago, denominado "O caderno de Saramago": http://caderno.josesaramago.org/ , obs... recomenda.
domingo, 7 de setembro de 2008
Janta

eu quis te conhecer
eu quis te convencer
paper clips and crayons in my bed
marcelo camelo : voz e violão
O Vendedor de Palavras
Para os que pensam que vivo somente de anedotas, eis uma crônica com toda a ironia que este país merece.O vendedor de palavraspor Fábio ReynolOuviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs.Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia:
"Histriônico - apenas R$0,50!".
Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta centavos de real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface, ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela cara de dona-de-casa ninguém jamais desconfiaria. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.
- Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
- Tem troco para cinco?
domingo, 17 de agosto de 2008
O dia em que o controle remoto estragou.
sábado, 9 de agosto de 2008
XVIII - Ficções do Interlúdio (1)

terça-feira, 29 de julho de 2008
Discurso dos Formanos em Direito da Unisinos 2006/2 - Diurno
Porto Alegre, 6 de janeiro de 2007.
[Essas palavras são dedicadas a memória do meu querido vô Selino João Krupp]
Os direitos fundamentais estão elencados na Constituição Nacional da maioria dos países signatários das Nações Unidas. No Brasil, essa positivação se deu em 1889, na Constituição do Império, mas de uma forma petrica na Carta Magna de 1988 em seu art. 5o.
Escravidão, racismo, discriminação, genocídios, abuso infantil, tortura e censura, são alguns exemplos do que queremos evitar através dos Direitos Fundamentais, isto é, são nossas tentativas históricas de proteção desse valor que se chama dignidade humana.
É verdade que nosso desenvolvimento foi grande: a reafirmação na metade do século XX pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, o crescente respeito de tratados através de órgãos intergovernamentais, cortes inter-regionais e Organizações Não-governamentais demonstram que estamos no caminho certo e que há muito por fazer.
Mas, o que esperar do século XXI?
Nada, é o século XXI que espera tudo de nós.
Esse é o nosso desafio.
Hoje temos a oportunidade de viajarmos na velocidade do clique do mouse, de sermos filmados por micro-câmeras do tamanho de um botão de camisa. Temos todos os tipos de comida enlatada, congelada e um crescimento assombroso do lixo que não temos tempo nem paciência de separar.
Somos conectados a computadores, celulares, TV digital e desconectados de nossas famílias, amigos e daqueles que amamos.
Falamos inglês mas não sabemos o que dizer para o menino que pede dinheiro na rua, aquele mesmo que irá nos encontrar daqui alguns anos nos tribunais e vamos nos perguntar, o que fizemos de errado?
Pois nós somos responsáveis pelas respostas dessas perguntas agora. Nós entendemos que os problemas dos direitos fundamentais são os problemas máximos que iremos enfrentar e deles não vamos fugir: desafios da bioética, dos transgênicos, novas relações familiares, preservação da intimidade e de um meio ambiente sustentável, nossa liberdade e igualdade e todos os novos direitos que estão a surgir. E que precisamos preservar para as gerações futuras. Essa é a responsabilidade dos direitos fundamentais.
É provável que não sejamos pessoas tão diferentes dos nossos pais quanto nós imaginamos. Mas as condições externas as quais estamos submetidos são muito diferentes, principalmente no que se refere ao período universitário.
Nós somos a geração que não conheceu a máquina de escrever na faculdade e que lembra do passado antes de nascermos, como uma televisão preto e branco. Nós não sabemos dirigir sem o cinto de segurança apertando o peito. A nossa geração não é Coca-Cola, somos a geração google-yahoo. O nosso herói é o Senna. Nós somos brasileiros sem inflação, tetra e penta campeão. Sabemos que nosso país é muito pobre. Somos aqueles que não passaram pela ditadura, aqueles que viram esse ano a Corte Inter-Americana de Direitos Humanos condenar pela primeira vez o Brasil. Nós lembramos do Eldorados dos Carajás, do Fernando Collor de Mello, dos sanguessugas e esperamos a reforma política.
E paradoxalmente procurando respostas no Direito.
Aprendemos que não temos certezas, aprendemos que “depende”. Depende do caso. Algum vizinho nos pergunta domingo ao meio dia sobre o direito da empregada e respondemos... depende. Porque a decisão jurídica faz parte de uma complexa estrutura de procedimentos e valores que pretende ser tão complexa quanto as situações da própria vida. E por isso depende, porque é complexo.
Aprendemos a ler, a escrever e a interpretar, leis, pessoas e suas histórias. Mas sobretudo aprendemos que mais do que nunca existe uma grande muralha, embora tênue, que separam os éticos, dos outros que sujam nossa profissão. Quando se fala em direitos fundamentais, é responsabilidade diária de todos nós numa caminhada ética, honesta e centrada na dignidade humana a mudança de trajetória do século XXI. Nós somos o próprio desafio desse século.
Esse discurso vai para os sonhadores
Os fora de forma, os rebeldes.
Aqueles que não se encaixam em lugares comuns
Os que desconcertam a turma
Os que estudam muito
Para aqueles que usam seus corações
Para aqueles que vêem o mundo diferente
Eles não estão satisfeitos com as leis
E não tem respeito por autoridades corruptas
Você pode cita-los, discorda-los,
Torna-los grandes ídolos ou grandes vilões
Mas a única que coisa que vocês não podem fazer
É ignora-los.
Porque eles mudam as coisas
Eles empurram a humanidade para frente
E o que alguns podem chamar de sonhadores. Nós vemos gênios.
Porque as pessoas que são loucas o suficiente,
para pensar que podem mudar o mundo... são as que mudam.
sábado, 26 de julho de 2008
Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (le grand finale)
[para ficar menos dramático]
- E tu, por que é que me chamavas Morte?
Eu sou, apenas, tua Alma...
Mario Quintana
Tiro, gritou Seu Antônio. A vida não sabe o que acontece nessas horas. Foram sete tiros. É que não se mexe com gente nativa. Gente nativa não é progressista, nem é conservadora, fazem o que é certo. Existe um certo dentro de pequenas comunidades, dentro de gente que aprende com gente. Os nativos cultivam família, seu valor e seu orgulho são suas vidas. Família é aquele local onde um é uma parte do outro. Não existe o certo para pessoas pós-modernas, pós-industrias, para as pessoas virtuais, existe apenas o “agora”. Ao mesmo tempo em que voltamos ao artificial, voltamos ao natural. Ao instinto, ao desejo. O desejo apenas arrancou dos olhos um trovejar. A cena estava explícita, quando houve o tiro. Outros cinco nas costas e um na cara. Dos palhaços, um dos dois morreu. O outro acordou e foi cuidar dos filhos. Ainda haveria tempo. Caso não ocorresse outro acaso.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (Lado B)
Eduardo pede um expresso duplo. Agüentar sessão “Festival de Gramado” será dose. Mônica lê o folhetim da loja de departamento. Lembra que terça-feira precisa pagar a quinta parcela das compras de natal. Fica feliz em pensar no feriado da sexta-feira. É claro que não lembra de qual feriado estão falando, ficará sabendo no dia de manhã quando o Eduardo ligar aquele rádio insuportável na freqüência AM para saber tudo de esportes, política, crimes e posicionamentos moralistas conservadores. É curto, muito curto o percurso que precisam fazer pela manhã, mas vão de carro, é mais cômodo e aliás tem que usar, já que compraram e só vão parar de pagar quando começarem a pagar o próximo, assim nunca param de pagar e de usar. Bicicletas estão na garagem com o pneu vazio, assim como o transporte público que não conseguem nem mais vê-lo e sentem insegurança, desconforto e mau cheiro da má política pública social. Chiquinho, primeiro filho, não fez o dever de casa porque estava na frente de computador jogando monstros uns nos outros para ver quem morreria antes. Caso isso trouxesse ainda uma percepção de finitude, mas ao contrário, lhe distancia da realidade e lhe consome o tempo, dando a equivocada sensação de presente para sempre.
Jogar tudo pela janela pode ser muito difícil, por isso Mônica insiste que continuar no desmotivante emprego é a melhor opção. Como é torturante acordar cedo. Fui feito para a noite, diz Eduardo. Ficar acordado é moleza, agora levantar é o maior sacrifício que faço todos os dias. Trabalhar para aquele gerente financeiro chupa cabra não tinha problema, se dava um jeito. Camisinha não precisa, preguiça demais, prudência de menos, luxúria demais, sabedoria de menos. Nossos pais podem pagar, não te preocupa. Aborto não dá mais, minha avó já sabe e eu também ia ficar muito culpada. O nome dela vai ser Elisabete, segunda e última filha.
Não tinham tido lua de mel, porque Francisco já tinha adiantado os planos. A lua de mel foi depois de nascer Elisabete. Os pais pagaram tudo, porque o Bebê consome dinheiro e gosta da casa dos avós. Enquanto os outros dois foram para o nordeste, se “acertar”. Na chegada à pousada, um já não gostou do lugar, muito simples, não era muito limpo, não tinha batata frita e tudo aquilo mais. O outro, aquele que havia escolhido, gostou. Na verdade, eram iguais de criação, ambos chatos e protegidos. Mas na vida não há proteção ao acaso, ainda mais quando há caso.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Caso o caso soubesse do acaso, o caso não se casava por acaso. (Lado A)
Antônio voltou da pescaria mais uma vez. Ouve o barulho do mar ou das crianças. Está tão acostumado em dormir e acordar no mesmo horário que nada incomoda. Esse mês teve mais peixe, no seguinte teve um pouco menos. Comemos muito peixe. Dizem que faz bem. Gostava de conversar com quem é de fora. Aliás vende água de coco nos verões, pela tarde, isso há mais de trinta anos. Antônio não tem sapatos, têm chinelos e a casca dura do pé. Antônio não tem idéia de como funciona a estrutura das CPIs no Congresso Nacional.
Seu Antônio estava surpreso com o número de turistas esse ano. Bastante gente, gente de fora e gente do sul também. Seu Antônio gostava de sorrir muito ao gritar “Olha Água de Coco”. Todos vinham, compravam e não reclamavam do preço, ele também não pedia muito. Um dia um fato estranho aconteceu, que ele conta até hoje para a família, a grande família, fato que ainda não conseguiu entender.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
LEILA - Cap. 1 - Destino
Na portaria do hotel, sentado o balconista mórbido tira um cochilo. Leila permanece parada por alguns instantes, até ele acordar. Não acorda.
- Tem algum lugar aberto a essa hora? – diz Leila. O balconista mórbido abre os olhos, olho por olho, como se estivesse dormindo há séculos. Ele pergunta sobre que lugar estava procurando. O cemitério e a igreja nunca fechavam.
- Eu preciso esquecer algumas coisas. Tem alguma cafeteria aberta?
O balconista mórbido, com palavras dormidas, explicou que Salvador do Sul não era Paris e que talvez nem durante o dia existisse cafeterias melancólicas com garçons solidários a histórias tristes. Mas tinha um posto 24 horas, na avenida central, perto da rotatória.
Leila sente um ar gelado pelo casaco aberto ao entrar na avenida. Se protege com o cachecol. O que devo fazer? Eu fui sempre tão segura nas minhas decisões, tão sabida. Conhecer o Tales não me tirou o sono. Tirou a vida. Eu não tenho nem o telefone, só o endereço. Eu nem falei nada, não disse do quê gostava, do seu cabelo. Ele não tinha nem meus contatos. E agora só mais uma noite. Ou é hoje, ou nunca mais.
Leila se aproxima do posto. Ao lado da loja de conveniências há uma farmácia, e a frente desses, um guarda noturno, vestido de preto e com cara de brabo. Mas todos tinham cheiro de posto. Em alguns passos, entrou na loja. A televisão estava ligada. Jô Soares. O balconista quieto está no computador, olhando o Orkut. Leila pede um café. De máquina, pode ser. Não há mesas, nem cadeiras. Apenas uma máquina de café, lanches velhos e uma banca com algumas revistas. Leila paga o café e sai da loja, insatisfeita. Tenta na farmácia algo melhor.
- Tem algum remédio para a alma?
O balconista sorriso confortável responde que havia anti-depressivos, calmantes, chás naturais, alguns tarja vermelha, outros preta, outros sem tarja. Mas todos eles remediavam, não mediavam coisa alguma.
- Depois que o efeito passa, a causa volta. Às vezes mais forte. Às vezes tarde demais.
Leila retoma a avenida central. Toma o sentido contrário do hotel. Sentido do seu sentido. Bate na porta da casa 177 da avenida central.
Um homem grisalho abre a portinha olho-mágico do meio da porta da casa. Não havia ninguém. Leila tinha se escondido. Espera a portinha olho-mágico fechar e a luz da casa se apagar. Dá a volta na casa. Bate na janela. Bate de novo. A luz do quarto acende. Tales abre a janela e pergunta o que houve. Leila abre um sorriso.
- Te encontro em Bruxelas. Aqui está o endereço.
Leila laça o cachecol no seu pescoço e saca um beijo. Olha no meio dos olhos. E volta a avenida central.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Segunda Versão
- Então, você saiu com quem hoje?
- Do que você está falando? Está sugerindo?
- Você sabe do quê. Eu não vou mais tolerar isso.
- Tolerar? Sabia que estou passando fome?
- Deve ser a tua mãe, fica parada o dia todo comendo tudo dentro de casa.
- Coitada, sorte que é surda. Parado é você que está desempregado.
Ele passa pela sogra, olha com desdém e sugere:
- Gostaria de viajar? Duas passagens só de ida...
- Pode deixar, vou fazer as minhas malas e de mamãe.
Maria sai para dentro do apartamento. Do quarto ela diz:
- É sua última chance.
- A sua já passou.
- Está bem.
Ela aparece na sala:
- Ô espertinho, eu estou lendo no bilhete que a passagem é para você.
- Ótimo, já sei para onde vou ir e o quê vou fazer.
Ele vai para o quarto. De lá, ele diz:
- Onde está o revolver, querida?
- Vai procurar na gaveta das dívidas.
- Não posso nem dar um fim que merece essa história. Esse é o resultado de se casar com a primeira que encontra na esquina.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Au(E)xílio
Três irmãos adultos, duas mulheres e um homem. Estão reunidos com o pai para convencê-lo a ir para um asilo. Não há problemas de dinheiro. Importante: cada filho pode ter uma razão. Construção de um diálogo onde fique claro a intenção de cada um no implícito. Utilização de diálogos diretos, indiretos e indiretos livres.
A estratégia para cantar o pai Ricardo para a cozinha havia dado certo. Depois do churrasco de domingo, Júnior, o filho mais velho, convidaria o pai para tomar um café passado. As duas gurias,
Joana e Felipa esperavam lavando a louça. Joana com o pano de pratos, saudou:
- Pai, como você consegue se virar aqui sozinho nessa casa tão grande?
Ricardo deu uma risada. Ricardo e Júnior sentaram-se à mesa, dentro da cozinha. A casa trazia muitas lembranças e duas vezes por semana para limpar, lavar e conversar tinha a Matilde.
- A Matilde é uma mercenária e ladra, - gritou Felipa, ensaboando os pratos. E afirmou que ele precisava de companhias de verdade. Gente com quem pudesse conversar sobre seus assuntos, sua época...
O pai contornava com o dedo indicador a borda de cima da xícara de café. O barulho da água escorrendo na pia, escondia os pensamentos do pai.
- O que vocês querem que eu faça? Não quero ir morar com vocês, ninguém mais mora em casa, só nesses apartamentos apertados, que não se pode nem roncar nem nada.
Júnior ria.
- As casas são muito perigosas - disse Felipa. - Inclusive é um milagre você não ter sido assaltado ainda.
Joana, mais calma, perguntou por Darci.
- O Darci vai bem. Faz tempo que não falo com ele, está sempre envolvido em bailes e excursões.
– O pai colocava adoçante no café.
Júnior perguntou:
- Pai, você sabia que existem muito mais mulheres que homens num Asilo?
Ricardo saiu da sala sem tomar o café. Júnior ganhou um pano de pratos da Joana e a brabeza de Felipa.
sábado, 7 de junho de 2008
A surpresa
Narrativa em primeira pessoa. Vôo. Estamos do lado de alguém. Temos que convencer alguém que somos outra pessoa. Sugerir. Não dizer especificamente. Diálogo ambíguo.
Acordei com a frase:
- Serviço de bordo?
Mal o “Dramin” tinha dado o efeito. Os vôos de Guarulhos-Porto Alegre estavam cada vez mais cansativos. E essas aeromoças estavam cada vez mais indelicadas. Via de regra, quando um passageiro dorme, não se faz a pergunta. Eu me recuperava da tontura da droga quando ao meu lado, interveio a sua réplica:
- Sim, se sobrar, pode me trazer mais um?
Coloquei o óculos, me recompus e mirei: Era a “Selminha Soares” atriz da novela da Record. Esbelta, linda e atraente. Aceitei o lanhe. A cada mordida dela, dava uma mordida também. Sincronia. Olhei para ela com um ar de surpresa, para chamar atenção. E toda a timidez reprimida soltou uma frase, mal pensada:
- Selminha, você não lembra de mim?
- Sou péssima em lembrar pessoas, não lembro.
- Eu sou seu vizinho. Nos encontramos nos corredores, na ruas, passeios com o cachorro.
- Nossa, desculpa. Eu sou muito avoada mesmo.
- Não se preocupe. Minha vida também está muito agitada. O novo programa na Bandeirantes está me tirando o sono.
- Programa? O que você faz?
A aeromoça, nem tão moça, trouxe o outro lanche. Pedi outro também. Comi o sanduíche e deixei as frutas. Da mesma forma que ela fez. Conscientemente. Fui agradar:
- Sabe, eu também não gosto de frutas.
- Eu gosto, mas eu como só no final.
Percebi que era o fim do diálogo. Mas, ainda estava jogando. O vôo começaria a descer. Pedimos o café. Com açúcar. Sem açúcar. Esperamos aqueles imensos minutos até o avião abrir as portas. No saguão, esperando as malas, a surpresa.
- Você não quer dividir o taxi? Se moramos tão perto.
- Que ironia. Minha mãe ficou de me buscar. Então.
- Será que ela se importa em dar uma carona?
- Não. Não.
Esperamos meia hora. Minha mãe morava no norte do Estado. O problema é que eu não tinha idéia de onde a criatura morava. Ela sabia que eu sabia. Era uma questão de deixar ela pedir para o táxi. Entramos no táxi:
- Para onde? Disse o taxista. Silêncio.
- Para o Bom fim. Disse eu, derrotado. Olhei de entrecanto para o lado. Nada.
Chegamos a minha casa.
- Eu pago.
- Tudo bem, estou indo para o Plaza.
- O quê?
- Passo um dia na tua casa. Agora eu sei onde você mora.
- E você?
- Eu moro em São Paulo.
domingo, 1 de junho de 2008
A armadilha dos sentidos
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Questões Preliminares de Joel IV (Monólogo Interior ou Fluxo de Consciência?)
Lá estava Joel. Sentado do outro lado da lancheria, grudado num pastel de carne. Mais gordo, mais baixo, mais careca e menos apressado. Pensei no queria teria acontecido com ele. Sobreviveu, foi o que primeiro me veio à mente. Deve ter trabalhado muito, não era de se queixar. Fazia chuva, fazia sol, estava sentado naquele fio de calçada, olhos atentos a qualquer ladino que viesse atentar seus carros. Ele olhou na minha direção. O olhar era outro. Não me reconheceu. Também, eu era um de tantos, ele era uma peça rara.
Fiquei ali esperando o Xis salada ficar pronto. Uma angustia tomou conta de mim, falo com ele, ou não falo. Ele se levantou e foi até o caixa. Na sua pasta preta carregada com a mão esquerda estava escrito “Curso de História”. Havia se entregado. Ou se encontrado, matemática não serve pra nada mesmo, se tivesse escolhido engenharia ganharia um pouco mais.
Ele se dirigiu ao banheiro (que era quase dentro da cozinha da lancheria). Eu não tinha muitas escolhas. Abordava ou não abordava. Nisso chegou o lanche e iniciei o esforço mastigatório. Olhava insistentemente para a porta de onde ele entrara. Passaram-se uns minutos e o Xis começou há ter um pouco de graça, pedi um ketchup, e a atenção já estava mais no programa de televisão que mostrava um acidente de avião. Quando me dei por conta, vi ele de costas dobrando o corredor, para algum lugar desse mundo.
domingo, 4 de maio de 2008
O que você fez com a minha fantasia de gorila?
produzido na Oficina de Criação Literária 39,
João questionava Joana. Joana se irritava. Mas não era apenas para retrucar. O casamento estava desmoronando. E a fantasia onde estava? João queria a fantasia, queria a alegria perdida. A fantasia é a lembrança da alegria do baile de carnaval de 1988, onde encontrara Joana, a louca índia guarani. O gorila gordo, como chamavam os amigos de perto, encontrou Joana naquela última noite antes da quarta-feira de cinzas. João era um homem apaixonado. Não transparecia de modo explícito, mas com freqüência contava a seu bebê os momentos importantes de sua vida:
“Eu estou de vestido de gorila. Cheiro de cerveja, lança-perfume e purpurina. Os corpos se tocavam de forma involuntária, uns pra cá, outros pra lá, nos embalos das marchinhas. Num determinado momento, o hit do momento, Perdidos na Selva do Barão Vermelho começa a tocar. Todos meus amigos se aproximam e começamos a pular. No mesmo momento, um grupo de gurias começa a pular. Nesse grupo estava a índia-guarani. Olhamos e começamos a rir. As fantasias eram perfeitas. Nós éramos perfeitos.”
Ao terminar de contar a história no quarto do bebê, João olha para os lados. Não há ninguém. Joana estava assistindo televisão. Buscando fantasias. Não a fantasia do gorila, que ela havia perdido.
domingo, 20 de abril de 2008
Questões Preliminares de Joel III
Eu não era o único admirador de Joel. Ele era bom de fala. Veja só: ele conversava e convencia com estudantes universitários (gente sem grana, que se sobra gasta em cerveja, ou em alguma outra coisa) que com aquele tamanho todo, com aquela desenvoltura, poderia e iria cuidar dos seus carros, enquanto estivessem estudando. E tinha resposta pra tudo. Está estudando? Sim tio, estou na 7a série. Pra que esse dinheiro menino? Pra comprar material. Convenceu.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Questões Preliminares de Joel II
Ele achava muito engraçado como muitos povos, por minorias que fossem, sabiam se eram japoneses, poloneses ou italianos. Ele sabia somente que vinha do continente esquecido. Ele dedicou-se primeiramente nas exatas. De torta já bastava sua vida. Acho fácil, báskara, geometria, e ainda teve uma grande afinidade com aqueles cálculos difíceis com nomes estranhos...logaritmos! Foi o melhor da turma, sentimento fantástico: olhava para a professora e esperava aquele olhar de volta! Hmmm! Nada de atração, afinidade, era o ego dele mesmo, achou, tinha um!
A família de Joel trabalhava. O pai era motorista de ônibus. A mãe limpava o colégio durante a semana, e a igreja durante o fim de semana. Eles tinham uma avó que vinha uma vez por semana, o nome dela era Monalisa, que falava pouco, mas tinha um sorriso muito confidente. Ele achava estranho o jeito que gostava dela. Ela foi embora um dia, dizem que havia ido para um albergue. Albergue, será que tinha ido viajar ? Joel pensou nisso. Olhou para o céu, estava azul e quente, e vento forte. A avó sempre dizia que em tempo de vento forte, é preciso pensar forte, para o vento não levar seus pensamentos. Os irmãos eram muitos. Quatro meninas e quatro meninos. Desses tinha um casal de gêmeos, alguns de touro, outros de escorpião e poucos de Áries.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Questões preliminares de Joel I (I de IV)
domingo, 6 de abril de 2008
Sono
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Chat
- Mas filho, você têm apenas 18 anos. Você está no segundo ano da faculdade.
- Pai, não me venha com suas desculpas baseadas em fatos que só o tempo vai curar. Eu não tenho culpa de ser precoce, de minha vida ser da maneira como você planejou e agora eu estar dando um fora em você. Vou casar e ter filhos.
- Filho a vida é um pouco mais complicada do que isso. Eu e sua mãe quando nos casamos éramos muito jovens e hoje estamos muito arrependidos. Nós não somos felizes e só permanecemos juntos para criar bem e com saúde você e os seus 5 irmãos e setes irmãs.
- Pai, você ainda tem coragem de vir me contradizer contando sua infeliz história de vida? Não entende que estou gritando por um pouco de atenção, urgindo que olhem em nossos olhos e me ouçam, me importunem com perguntas sobre minhas árvores e minhas rosas.
- Ricardo Maria, você está passando dos limites.
- É só isso que eu quero pai. Ultrapassar os limites... não foi isso que você sempre me incentivou? Quando eu não gostava de jogar futebol na escola, porque sempre fui gordo e “tinha que ultrapassar meus limites”, e sem falar no nome, esse dedo inflamado que vocês colocaram em mim, Maria, mariazinha, que merda, toda minha vida carregando esse meu lado feminino discriminado na carteira de identidade, carteirinha estudantil, no plano de saúde, no diploma de segundo grau.
- Filho, vou ter que ligar para a Joana, o que vocês andaram fal..
- A Joana? Ela é um amor pai, pena que é casada, mas apenas me embaralhou mais a cabeça. Eu acho que ela não conclui o curso de psicologia, ela gosta mesmo é de outras coisas, só fica me perguntado sobre a minha vida sexual, se estou satisfeito, se minhas parceiras estão satisfeitas, se eu tenho culpas...ahhhrrrr... Sério vou casar e ter filhos.
- Fabrício Maria, venha cá, seu irmão está precisando de um copo d’água.
- Eu preciso é de uma vida pai.
- Você deve descobrir isso, mais ou menos sozinho meu filho.
- Por isso vou casar e ter f...
- Mas você não tem nem mais namorada.
- Mas a Berenice ainda me ama.
- Mas você nunca a amou.
- Eu não sei o que é amar.
- Ninguém sabe filho.
- Então como você diz que não ama a mãe?
- Eu apenas sinto isso. Minhas expectativas platônicas, são do mundo da estrela, sabe-se lá que formas que eu vi. Mas depois que meu desejo ardente se esvaneceu, sobraram apenas a carcaça, minha e dela. E eu não soube como aproveitar os pedacinhos tão delicados de diferença que nós tínhamos, nossa maior riqueza. Eu não consegui ter a proeza de aprender isso antes meu filho.
- Pô cara, legal naum imaginava q vc conseguisse interpretar um pai taum bem.
- Eh eu tbm naum sei como consegui fazer isso.
- Mas vc tcl da onde?
- Eu? Do andar de cima.
- Di cima? Vc tah morto? No céu?Rsss...
- Não, do escritório mesmo.
- O q????? Qm eh vc? Daniel?
- (...)
- Pai?
sábado, 29 de março de 2008
Microcontos - série P: olíticas
Peço Permissão Para Problematizar Provérbios Promíscuos Protegidos Pelo Processo Participativo Proveniente Por Partidos Políticos Pernetas. Possíveis Preocupados Para Por Protestos Pela Privada.
Patos
Procura-se Presidente Preocupado Por: Pagar Pelos Parados; Perder Pelos Perpétuos; Procurar Pelos Perdidos; Prometer Palavras Puras; Prender Proprietário Privado...Pensar, Por Piegas.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Democracia em luto, de branco
Ter o direito de ter o dever de votar. Mas o que acontece quando a náusea por nossos representantes e por nosso sistema político torna-se maior do que podemos suportar?
O autor José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura (o único em língua portuguesa), arquiteta em seu romance, Ensaio sobre a Lucidez, uma capital onde grande maioria dos votos são em branco, fazendo com que políticos de todos os lados, direita, centro e esquerda, percebam o descontentamento da população com o governo.
Observa-se que o país nem precisa ler Saramago para movimentos a favor de votar nulo ou em branco, espalharem-se pelo país, principalmente através das novas mídias de comunicação, como listas de e-mails, websites, comunidades do Orkut, e blogs, como denunciou Zero Hora (27/05/06).
Esses grupos são compostos pela classe média empobrecida pelas décadas perdidas de 80 e 90, ex-estrelas vermelhas, ex-tucanos e por todos que observam ano após ano o seu país, num esforço inacreditável, crescer um pouco mais que o Haiti. E a pergunta indignada, dentro do peito dessas pessoas a votar, explode em: O que eu posso fazer nessas eleições? Votar. Votar em ninguém.
Esses votos em branco são os votos que gostariam de votar na condenação nas CPI’s arquivadas. Também são aqueles votos que choraram ao ver a estrela vermelha da esperança, se avermelhar de vergonha e tristeza. Os votos em branco é são as armas dessa sociedade desarmada de esperança, para combater a violência urbana e social sem solução, que nos afeta diariamente.
Entretanto, não é muito difícil compreender que nossos representantes serão eleitos de alguma forma, ou de outra. Então, que sejam por nós mesmos. É provável que ainda sejam corruptos, mas que sejam cada vez mais denunciados e intimidados por instituições democráticas conquistadas depois de um longo período de votos em branco (1964-1982).
Refletir e denunciar as mazelas de nossa democracia demonstra maturidade da sociedade. Mas no fim, votar nulo é desconhecer as regras, votar nulo é suicidar-se com a pseudo-vantagem de ficar rindo inteligentemente lá do céu, enquanto os seres humanos, que lutam por sobreviver lá embaixo, discutem como tornar esse país mais digno, com essas mesmas pessoas.
Publicado em Zero Hora - 15/06/2006.
PS: (maiores discussões em http://subdiversao.blogspot.com/2006/06/democracia-em-luto-de-branco.html)
domingo, 23 de março de 2008
O que esperar do tempo
Fica fácil então. Caso não me dêem nada, não irei. Caso dêem, irei.